sábado, 15 de março de 2008

Shanghai


Fui à Shanghai em dezembro do ano passado mas não tive a oportunidade de publicar nada a respeito por causa de contratempos com o site e, depois, acabei indo viajar nas férias de inverno.
Já que demorou, veio melhor: consegui o photoshop depois de muito tempo sem (obrigado Dina!) e dei um belo trato em todas as fotos.

Shanghai, vejam bem, é Shang-hai, sendo shang "acima", "superior" e hai "mar", ou seja, algo como mar superior. Na verdade, a cidade não está exatamente no mar, mas, sim, no delta do rio Yangtze, o mais longo da China. Obviamente é um grande porto.

Shanghai, reparem, é grande, muito grande, tipo São Paulo, Nova Iorque ou Londres. Eu me sinto um pouco culpado às vezes, mas adoro cidade grande, adoro metrópole, um monte de gente junta e etc. Acho que por ter crescido em São Paulo me acostumei a estar num lugar onde a quantidade de informação é muito maior do que a minha capacidade de absorção. Shanghai tem essa coisa que paira no ar, esse cheiro de idéias diferentes e pessoas interessantes.

A viagem, depois desses dois meses, já se perdeu um pouco na minha memória. Alguns detalhes se evaporaram e outros, os que de alguma forma me marcaram mais, ficaram, assim como a sensação geral, aquele sentimento que um lugar nos transmite mas que, apesar de ser extremamente tátil para nós mesmos, é muito difícil passar para os outros com palavras.
Uma forma, então, de tentar expressar essa lembrança é mostrando algumas fotografias para, pelo menos, vocês terem a oportunidade de ver o que eu vi e, se não estiverem tão longe de mim no espaço e no tempo, sentirem um pouco do mesmo que eu. Se sentirem falta de imagens mais clichês, é só dar um google em Shanghai...

Vou entretecer, porém, com alguns parágrafos para deixar algumas idéias mais claras. Essa moça à esquerda é Margaret, uma californiana que me hospedou nos cinco dias que passei lá, pelo projeto Couchsurfing (www.couchsurfing.com).

Esta foi a primeira ou a segunda noite lá, já na lembro. Estávamos com alguns amigos dela comemorando o aniversário de uma moça irlandesa (na foto, à direita) num bar-restaurante meio para gringos. Pequeno detalhe: existem meio milhão de estrangeiros morando em Shanghai, além dos turistas. Assim como esse lugar, existem milhares de outros com o foco nessa gente, geralmente mais endinheirada, que servem de tudo que você poderia querer comer ou beber fora da China. Os preços são afim. Depois fomos para este lugar:

Eles eram de Nova Iorque.

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Shanghai foi cidade européia antigamente. Um pouco de história: No séc. XIX, depois das guerras do ópio, a China, que não tinha como medir forças com o império britânico, teve que assinar um tratado desigual em que só perdia, não ganhava nada. Foi obrigada a ceder diversos portos para os invasores, entre eles Shanghai, para que eles pudessem organizar e transportar seu comércio de seda, chá e outras coisas lucrativas da época. A cidade foi dividida entre os ingleses, franceses e americanos, tendo cada país uma concessão de terra para construir seus escritórios e moradias. Após a revolução comunista, que aliás teve sua semente ali, a região voltou para as mãos dos chineses.

Estamos, eu e esses três sujeitos, na àrea mais famosa da cidade, conhecida como The Bund, que é um aterro perto do porto construído pelos britânicos em sua concessão. Na avenida que acompanha o rio, enfileiram-se dezenas de prédios de mais de cem anos que serviam de base para bancos, financeiras e empresas de transporte naval. Estão muito bem conservados e hoje em dia viraram museus, bancos, hotéis e por aí vai.

Eu fiquei mais passeando, perambulando a pé pelas ruas da cidade, do que indo para este ou aquele lugar. Eu abria o mapa de manhã, olhava um bairro que parecia ser interessante e ia até lá. Deste ponto em diante era acaso. A parte que eu mais gostei foi a concessão francesa, toda cheia de pequenos prédios e casas num estilo meio parisiense, com ruas cheias de árvores, vielas estreitas e quarteirões curtinhos. Uma parte desse bairro está sendo transformada em shoppings e magazines com roupas de grife. Pena.





Encontrei esta feira de antiguidades a céu aberto.

E o frio não estava muito ruim por lá, fazia uns 15 graus, bem menos do que em Xi'an. Havia uma brisa constante de cidade de beira de rio.




Encontrei a casa onde se reuniram pela primeira vez os criadores do partido comunista, incluindo o Mao. O lugar virou um museu, muito bom aliás, com boas traduções para inglês das explicações sobre a história da cidade e da revolução. Parece que, quando os policiais da concessão francesa descobriram sobre as reuniões, os participantes tiveram que fugir e foram continuar as conversas num barco igual a esse, num rio bem ao sul dali.




O apê em que eu fiquei era um pouco longe do centro, pegava o metrô o tempo todo, muito bom e rápido. Parabéns. Sente só:


Esse cara cozinhou a primeira refeição que eu fiz lá.




Era natal e a minha anfitriã me convidou para um jantarzinho na casa de um amigo americano.



Do outro lado do rio tem uma parte nova da cidade que era só mato há vinte anos atrás. Chamam de Pudong. Lá estão os prédios mais altos da cidade e todo um centro financeiro e de tecnologia. A construção mais alta da cidade é a Torre Pérola Oriental, que é só um marco, uma antena, assim como as torres de Detroit ou Toronto. O edifício mais alto é o Jin Mao, do hotel Hyatt. Eu queria muito ver as coisas lá de cima, mas como tinha que pagar uma fortuna para subir na torre, decidi ir no hotel e tomar um espresso no bar, com uma vista quase igual. O café era a maior grana, mas eu fui pela lógica que ia pagar menos pela mesma vista e ainda ganhar um café de graça!


O museu de Shanghai é o mais animal da China! Dá para passar uns dois dias visitando. Tem um salão só com porcelanas e cerâmicas, outro de esculturas, um de caligrafia antiga, mais outro de jade e por aí vai. Tudo estava exposto impecavelmente, com iluminação profissa, vidros limpísimos e explicações bilíngues (sem os tradicionais Chinglish). Podia fotografar tudo, coisa que até assusta, dado o medo de foto do governo chinês. Como não tinha nenhuma placa dizendo se era proibido ou não, eu fiquei ensaiando fazer um clic durante um tempão, esperando para ver se o guardinha ia pular para cima de mim.


Um dos outros lugares que fui visitar de propósito foi esta antiga sinagoga. Tinha que pagar para entrar porque virou museu municipal, e não era barato. Consegui dar o truque. A comunidade judaica em Shanghai chegou a passar de 20 mil pessoas durante a segunda guerra, a China foi o único país que durante aquele período não exigiu vistos para refugiados. A maioria saiu de lá depois da guerra, grande parte imigrando para Israel, E.U.A., Australia e Hong Kong. Quem quiser saber mais e se vira bem no inglês clica aqui.






Fui a Shanghai como iria a Paris, à Veneza ou a Roma. Fui conhecer, mais do que tudo, a cidade em si, suas pessoas, seus cheiros, suas metáforas, seus reflexos e suas cores. Adorei tudo o que vi. A cultura chinesa se mistura ali com um quê de europa, por ter sido praticamente parte desta durante algum tempo e por hoje em dia ser uma grande metrópole que concentra muitos estrangeiros e acabou se ocidentalizando mais do que qualquer outro lugar da China, com exceção de Macau e Hong Kong. Foi interessante ver esse contraste com os outros lugares da China que eu já tinha visitado.

Cada vez mais eu gosto da fotografia como criadora das minhas memórias de viagem. De fato, elas são muito mais duradouras do que as minhas lembranças e ajudam a despertá-las quando as olho depois de certo tempo. Minhas fotos de viagem não só me trazem as imagens dos lugares pelos quais passei como também me lembram do que eu estava sentindo e pensando quando olhava pelo visor e enquadrava uma cena.





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Aguardem postagem sobre a chegada da primavera na China e as minhas novidades aqui de volta à Xi'an.

Beijos e abraços.