terça-feira, 8 de abril de 2008

Mais do mesmo

Aqui na China, as saudades que eu sinto do Brasil e das pessoas que eu gosto é amenizada sempre quando consigo ter novas experiências no meu dia-a-dia. Nos primeiros meses longe de casa, isso acontecia o tempo todo, simplesmente porque tudo era novidade, os rostos, a língua estranha, o ar, o céu, a comida, tudo era lindo. Lembrando agora da conclusão que o meu querido amigo André tirou da sua longa estada em Barcelona, olho para a minha própria experiência e vejo que de fato existe um certo ciclo na adaptação na diáspora: depois desse primeiro período de encantamento, vem um outro, de tristeza profunda, causado pela memória ainda muito intensa da vida que se deixou para trás que não encontra mais na realidade a mesma fonte inesgotável de maravilhas fantásticas, tranformando o indivíduo, antes deliciado, num ser com o peito vazio. Numa terceira fase, a gente se sente, aos poucos, parte dessa nova realidade, a rotina de trabalho e/ou estudo começa a fazer sentido e as coisas vão se encaixando naturalmente. Então, passamos a sentir as coisas ao nosso redor como normais, interagindo com o ambiente e com as pessoas de forma mais natural, menos afetada.
Assim como qualquer coisa na vida, tem algumas coisas que a gente só vai descobrindo com o tempo, com a convivência cotidiana, e que estão abaixo da superfície da novidade que cega à primeira vista.

Bom, já que nem só de idéias se alimenta o homem, falemos um pouco sobre coisas mais práticas. Como o café que eu ando fazendo de vez em quando aqui em casa, por exemplo, com uma cafeteira dessas de empurrar o êmbolo com uma tela de metal para dentro de um copo de vidro (quem conhece? Acho que chama café turco). Estou usando um pó italiano baratinho que achei aqui, que dá pro gasto. Tem um lugar super legal que abriu aqui em frente da universidade com café e comida "ocidental". O lugar é animal, gostoso de sentar e ficar horas, pena que custa o olho da cara. O café de coador mais simples custa quase o mesmo preço do pacote de café importado que eu uso aqui em casa. O grosso do movimento é de estrangeiros que estudam chinês aqui na universidade ao lado, eles com certeza tem mais dinheiro e mais interesse nos produtos ocidentais vendidos ali.
Pão: comecei a comer pão decente de novo quando o outro professor brasileiro me contou de uma padaria que tem aqui na região. Além disso, na semana passada nós, os professores, compramos um lote de pães congelados produzidos por uma padaria suíça de Pequim. Tivemos que comprar em quantidade para que eles nos mandassem entregar de avião. Valeu a pena, foi o melhor pão que comi em meses. Os chineses tem um conceito completamente diferente de pão. Geralmente, se você achar um pão melhorzinho no supermercado, é doce e mole demais.
Tenho cozinhado mais ultimamente também, estou um pouco cansado da comida que têm para comer por aqui. Claro que eu adoro comida chinesa, mas já estou enjoado de alguns pratos, além de estar engordando por causa da quantidade de óleo e açúcar que tem na maioria dos pratos.
Semana retrasada, muitos professores, inclusive eu, tiveram alunos vindo perguntar durante as aulas coisas sobre o Tibete. Alguns vinham perguntar o que achávamos da história toda, outros sobre o que sabíamos a respeito que eles talvez não soubessem, mas todos sempre vinham com a cabeça feita pelo controle da informação na China. Não chega a ser lavagem cerebral porque eles nunca mudaram de idéia, desde pequenos aprenderam a pensar como o partido queria. Toda a mídia do país é estatal ou controlada por pessoas ligadas às idéias do partido, a internet é censurada assim como a transmissão de canais estrangeiros quando mostram qualquer coisa que o governo não ache bom os cidadão chineses verem. Eles alegam que há muita manipulação e mentira na mídia estrangeira. Os pobres chineses não têm discernimento para avaliar as notícias que vêem, coitadinhos.
O que eu e muito professores gringos tentamos cotidianamente ensinar pros alunos daqui, além da língua, é a pensar. A educação neste país basicamente se resume em ensinar muita coisa para todos, fazendo eles decorarem milhares de fatos, nomes e dados que não vêm associados à uma aprendizado do como processar toda essa informação. É difícil falar sobre isso porque eu sinto instintivamente que está tudo muito enraizado na cultura e na história do país. Não sei dizer o que está realmente errado nisso tudo, mas sei que, como sempre na história das autocracias deste mundo, uma maioria vive suas vidas sem maiores preocupações sobre a qualidade da sociedade em que vive enquanto tiver uma comida e casa e uma minoria é esmagada por não se encaixar no sistema de qualquer uma das milhares formas possíveis.
Bom, o Ferreira Gular disse numa de suas poesias que "uma parte de mim almoça e janta / outra parte se espanta". Eu diria que eu tenho me espantado muito o tempo todo e comido um pouco de vez em quando aqui na China.


Além de entender mais e mais sobre a cultura chinesa e o mundo em que vivo, que acho que é o principal dessa história, mudando um pouco de assunto, tem um outra coisa que vou descobrindo estando aqui. Por ser brasileiro de São Paulo, eu nunca soube direito como é viver num clima temperado. A gente cresce vendo filmes, lendo poesias sobre o inverno e o verão, entendendo que as estações do ano tem um simbolismo fortíssimo sobre todas as culturas da terra, mas nunca sente na pele, de verdade, a fonte de tudo isso. Vivendo há mais de oito meses na China, pude, pela primeira vez, sentir na pele o que era calor esturricante contrastado, no tempo, com a neve fria. E agora, o que mais me surprendeu: a primavera.









Algumas dessas fotos são num jardim botânico que tem aqui perto. Olha só o que pega por lá:

Todos os dias tem dezenas de casais de noivos indo fazer suas fotos de casamento com as equipes que trabalham lá. Os caras têm um escritório numa área dentro do parque para organizar e centralizar toda essa fotografação. As fotos que eles montam são muito clichês, o fotógrafo chega a comandar os noivos fazendo eles posarem, em cenas ridículas na minha opinião. Bom, o que que eu vou ficar cagando regra também né?

Bem, era isso. E mais um monte de coisa.

PS: Semana que vem vou para Israel visitar meu irmão, que mora em Tel-Aviv, e minha mãe, que também vai para lá. Vamos passar uns dez dias juntos viajando e visitando pessoas queridas. Com certeza vou publicar uma postagem sobre.

Beijocas