sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O exército vermelho e o Rio Amarelo.


Há três semanas atrás fiz mais uma viagem, desta vez menor, só um sábado e domingo. Mas foi muito legal apesar da duração. Novamente, foi a universidade que organizou e levou a gente no busão deles. Fomos pra dois lugares, pra Yanan e pra uma cachoeira no rio Amarelo, ambos no norte da província de Shaanxi, onde moro. Sábado, estrada boa, paramos pra comprar uma água num posto e eis que havia essa exibição explícita de carros acidentados com fotos dos corpos queimados e mutilados por efeito de ignorância no volante. Os caras pegam pesado aqui na China.



Yanan.

Yanan é uma cidade histórica muito famosa no país por ser o lugar onde o partido comunista assentou e tomou força pra conquistar o poder depois de fugir dos nacionalistas. Conhecida como "A longa marcha", a escapada dos comunistas desde o sudeste da China até o norte percorreu uns 10.000 km e cruzou com 200 milhões de pessoas no caminho, fazendo muitas cabeças e recrutando gente. Yanan é uma região montanhosa onde a terra é pedregulhosa, onde é possível construir casas escavando pequenas cavernas nos morros. Foi onde a longa marcha do exército vermelho acabou. Lá, eles se refugiaram dos ataques do poder central. Construíram casas, escolas, um centro de treinamento militar e centros de reunião para as discussões do partido. Mao Tse-tung foi eleito o chefe dos comunistas nessa época e durante uns 10 anos eles fortaleceram sua ideologia e sua força física, com a chegada ininterrupta de jovens que vinham de todas as partes para juntar-se aos vermelhos. De lá eles saíram para proclamar a Rep. Pop. da China em 1º de outubro de 1949.


Assim que chagamos na cidade, descemos do ônibus em frente à um hotel onde iríamos negociar um bom preço pra todo mundo. Enquanto esperávamos pelo resultado e pelo almoço que íamos comer por lá de qualquer forma, ficamos na rua conversando, tomando um ar. Não demorou nada até que uns artistas de rua, maravilhados com a possibilidade de fazer uns trocados com os gringos, viessem fazer suas estripulias em meio ao grupo.



Depois de almoçar, fomos visitar o museu que estava ali ao lado, sobre a revolução. Quase tudo eram fotos por lá, com alguns documentos e objetos originais expostos e umas estátuas de cera. Tudo estava explicado. Em chinês. Legal! Então, nessas horas a gente aprende a visitar um museu não pelo que ele pretende mostrar, mas pra ver com que tipo de imagens eles querem construir o imaginário alheio. Se liguem nessa pintura que está exposta.



Na China se admira muito a revolução comunista e seus heróis. Isso tudo virou quase uma lenda por aqui, um mito. Hoje em dia não se percebe nenhum fator comunista por aí, só o partido único e todo-poderoso, além de corrupto. O objeto de consumo do chinês médio parece que é um emprego no setor público, onde pode enriquecer mais facilmente, tecendo relações vantajosas com membros do partido.
Saindo do museu, fomos ver o lugar onde era a base dos dirigentes do partido quando eles estavam assentados em Yanan. Este salão era o auditório principal, onde os bambambans se reuniam. Mao deve ter falado muito aqui, e deve ter sido muito aplaudido.

Esta é uma das muitas caverninhas que serviram de moradia e escritório pros chefes do partido comunista durante o período que usaram o local como centro de suas atividades, de 1935 a 48. Dá pra entrar na maioria delas. Eram lugares muito seguros pra se proteger de bombas eventualmente lançadas contra o exército vermelho na cidade.

Num desses quartos enfiados na montanha, uma mulher cantava e recortava papéis. Produzia estes quadros feitos com uma antiga técnica de recortar papéis muito finos. Essa menina, graciossíma , que inclusive aparece em muitas das minhas fotos, é Xiaoshui, filha de uma das mulheres que trabalham nos escritórios da universidade.


Em seguida fomos visitar a pagoda da cidade, que data mais ou menos do ano 1000 d.C. Escadinhas de mão te levam por dentro da estrutura de oito andares até o topo, onde ventava sem parar, furiosamente. Fazendo a pesquisa para este post, descobri que o morro onde ela está vem tendo muitos deslizamentos de terra e que a torre deu uma inclinada de leve. Medo. Lá de cima dava pra ver a cidade inteira, que fica num pequeno vale por onde corre um rio relativamente grande.


Depois, hotel, jantar, rolê noturno num país onde dá pra sentir-se seguro em qualquer lugar.



Sono, muito sono ao acordar às sete da matina. Mas olhem que luz o sol projetava nas ruas naquela manhã de domingo.


Desjejum típico da China: sopa de arroz sem sal, verduras e legumes fritos diversos, tofu apimentado e deliciosos baozi (essas cestinhas da foto) recheados com verduras. Ah, sim, chá verde com leite de soja quente.


HuangHe - Rio Amarelo.

Rumamos a leste, até a divisa com a província de Shanxi (estamos em Shaanxi aqui), onde está uma das maiores cachoeiras da China, fichinha perto das brasileiras. Fica num vale muito bonito, onde um vento forte e constante que acompanhava o curso do rio batia na cara da gente. O sol continuava brilhando, um dia limpo e claro como é raro nestas terras. O lugar é gostoso, e o sol, o vento e a falta de turistas me fizeram sentir muito feliz ali. Cachoeira é foda, não importa onde nem porquê, é a energia da água. O rio Amarelo é bem famoso no mundo inteiro, ele atravessa metade da China pelo norte até o mar que leva o mesmo nome: Amarelo. Eu lembro desse rio das aulas de geografia da escola, engraçado, porque não gostava muito de geografia nessa época.



Tudo montadinho pros turistas chegarem perto o bastante pra sentir o spray na cara se quiserem. Ali, como em todos os lugares afins na China, estão uns caras com umas roupas típicas da região, quase um folclore, pra alugar pros visitantes tirarem fotos de si mesmo trasvestidos. Neste caso havia até umas mulas decoradas pra você subir e pagar um mico mais bonito. Na foto, Simon, um australiano muito magro que trabalhava para o governo de seu país escrevendo "traduções" dos textos das leis para uma linguagem mais acessível ao povo.

Esses caras tentavam colocar esse colete de pelo em mim, obviamente querendo cobrar se eu não me opusesse. Era duro falar "não quero!" em chinês o tempo todo.

No caminho de volta, paramos num lado da estrada porque ali está um marco de onde pode-se ver uma ponte construída recentemente. A ponte atravessa um vale bem alto, vencendo-o com uns pilares megalomaníacos. Ou seja, os chineses constroem uma ponte enorme e junto já constroem um local turístico ao lado pra você ver os pilares e falar - " Nossa! Que alto!" ... Alguém falou que são os pilares de ponte mais altos da Àsia. Deve ser, não me importo. Olha que lugar lindo por natureza ao invés disso:


Foto em grupo antes de partir. Gesticulando, na frente da galera, está José, o outro brasileiro.

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Comecei a dar aulas, acabou o bem-bom, aguardem post a respeito.

Beijocas.

3 comentários:

Unknown disse...

qta coisa, hein di?!
mto bom tudo e especialmente aquela menina fofa!
vc está desmistificando a china p mim rs!
mtos bjos e nem preciso dizer q vc tá arrasando!

Mauricio disse...

Irmãozinho!!! Que coisas lindas você está vivenciando por aí, né? E que bom que a tecnologia (neste momento, sinto um "q" de meu pai falando) nos proporciona este contato!!! Tava olhando seu blog e vi que há postagens desde agosto! Meu D'us! Como o tempo passa rápido!
Beijo,

Anônimo disse...

Oi menino!

O blog está lindo!
Sempre fico aguardando um novo post e imaginando qual será a próxima e fantástica aventura de Diego Last, do outro lado do mundo!

Muitos beijos!

P.S: Adorei a barba!