Bom, para quem está curioso sobre o que rolou comigo aqui em Xi'an, aí vai:
Ontem, ás duas da tarde, eu entrei na saleta onde tenho minha aula particular de chinês. O lugar, uma escola de chinês para estrangeiros, comandada por um casal de tradutores, é na verdade um apartamento no térreo de um edifício novinho em folha a uns dez quarteirões de onde eu moro. Duas e quinze, minha professora está falando alguma coisa para mim em chinês e eu tentando me concentrar para entender a frase. De repente, senti alguma coisa balançando. No primeiro instante, achei que era uma tontura da digestão do almoço. Sentei direito na cadeira mas continuava com os braços apoiados na mesa diante de mim, seguia sentindo aquela coisa. Perguntei para minha professora se ela estava mexendo a mesa ao mesmo tempo em que me levantava, já assustado. Tudo isso durou 7 segundos. No oitavo segundo eu entendi que tinha alguma coisa muito errada rolando e comecei a ir para a porta da escola, nisso, os outros alunos e professores também estavam se levantando. Não tremia o chão, balançava feito barco.
Quando cheguei perto do elevador e das escadas, perto da saída do prédio, ouvi uma gritaria geral e saí correndo do prédio que nem um retardado. Eu achava, não que tivesse tempo para achar muita coisa, que era o prédio que estava ruindo, tipo aquele que caiu uma vez no Brasil, lembram? Achei que tinha sido mal construído e estava vindo abaixo, eu olhava para trás e via aquele prédio de 25 andares se mexendo, fazendo barulho, meio que trincando. Atravessei o pátio em frente e entrei num estacionamento coberto, só de reflexo. Um dos professores da escola veio correndo comigo. Eu ainda segurava a caneta que estava usando, aberta.
Quando pensei que pudesse ser um terremoto e me dei conta de que, se aquele prédio realmente desabasse, eu não estava seguro de qualquer forma naquele estacionamento, saí correndo de novo para fora e para a rua, passando muito perto do prédio novamente. Cheguei na rua e vi gente saindo dos outros prédios. Aí que me dei conta de que era de fato um terremoto. Comecei a correr mais devagar, até chegar na avenida, onde podíamos estar mais seguros se alguma coisa desabasse. Em dez minutos o lugar estava lotado de gente saída de todos os edifícios da rua. Ficamos uns vinte minutos esperando, o tremor já tinha passado mas estavam todos sem reação, nada dasabou.
Duas outras alunas, minhas colegas aqui da faculdade, decidiram voltar para casa. Eu ainda queria pegar minhas coisas na sala de aula, principalmente minha carteira que tinha ficado na mesa. Minha bicicleta também estava dentro do complexo, mas numa área aberta atrás do estacionamento. Voltei com uma das professoras mas não deixaram a gente entrar no prédio. Peguei minha bicicleta e voltei para casa. Meu dedinho do pé estava sangrando, não lembro bem como cortei, acho que alguém pisou. As ruas da cidade estavam tomadas de pessoas saídas do jeito que estavam de dentro dos seus apartamentos e locais de trabalho.
O meu apê na universidade é num predinho de três andares, bem simples, achei que não teria problema entrar. Vi as notícias na internet e na tv. Os telefones não funcionavam. Entendi o que tinha acontecido e fiquei esperando mais informação para ver se íamos ter que ficar para fora dos prédios ou o quê. A tarde aqui no campus foi passando, eu desci para o jardim para trocar idéia com os outros professores que iam chegando. Alguns já tinham passado por isso na califórnia e na europa, ficaram falando dos aftershoks, os tremores que vem depois do terremoto. De noite fomos dormir com rumores de que viriam mais alguns tremores. Eu tava tão nervoso que não conseguia dormir, ficava noiado com qualquer barulho. Dormi mal e porcamente até umas 4:30 da madruga, quando acordei com um tremor de terra. Até que levantei, já tinha passado.
Fiquei perambulando uns minutos, tentando pensar o que fazer. Voltei pra cama e tentei dormir mais um pouco, às seis eu tinha que acordar para dar aula. A cama é de mola e cada vez que eu me mexia dormindo achava que a terra tava tremendo de novo, muito bizarro. Fui dar aula hoje de manhã e não rolou muita coisa: da primeira turma apareceram só quatro muleques. O resto estava dormindo ainda. Boa parte dos estudantes da universidade dormiu nos jardins e praças do campus, ao relento, com medo de voltar para dentro do dormitório. A segunda turma apareceu inteira. Agora era para eu dar uma terceira aula, mas os alunos me ligaram dizendo que estavam muito cansados, não queriam ter aula. Voltei para casa para dormir eu também.
Ainda parece que tá mexendo o chão algumas horas. Não dá para saber se é coisa da minha cabeça ou se são leves sismos retardatários. Tudo meio que já voltou ao normal aqui em Xi'an, apesar de alguns prédios onde não se pode entrar por enquanto, incluindo o lugar onde ficaram minhas coisas ontem.
O resto é notícia, que vocês podem ler na internet e ver na TV que nem eu.
Vou voltar para o Brasil de corpo fechado depois desta temporada na China!
abraços e beijos,
Diego
terça-feira, 13 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Israel

Na segunda metade do mês passado tirei uma pequena folga do trabalho de professor e fui ter com a minha família no oriente médio, em Israel mais exatamente. Sei que esta viagem foge um pouco do tema do blog, que é a China, mas tem um pouco a ver porque viajei desde aqui e rolou um puta contraste sobre o qual eu vou falar mais para o final deste post.
Para quem não sabe, eu sou judeu e apesar de estar bem desligado da parte religiosa desse termo, inegavelmente faço parte de uma cultura, de um povo, de uma história. Meu irmão, André, mudou-se para Israel há uns dois anos e está estudando numa universidade perto de Tel-Aviv, a capital do país em certos aspectos. Minha mãe, que mora na Argentina, foi para lá e me pagou uma passagem para eu também ir. Foi difícil conseguir a folga de dez dias da universidade, mas valia a pena.

Vou falar sobre a viagem mais ou menos de forma cronológica, mudando a ordem de algumas coisas pelo bem da linha de raciocínio
Estas fotos são em Cesaréa, dá para ver o aqueduto que os romanos construíram no tempo deles para abastecer a cidade na beira da praia.




A data da viagem que fiz não foi acaso. A segunda noite em que estive lá foi Pessach, uma festa judaica muito importante, que lembra a saída do povo judeu do Egito há milhares de anos, onde éramos escravos. Nessa noite faz-se um grande jantar com a família e pessoas próximas e nós três tínhamos sido convidados por uma antiga amiga da minha mãe para pasarmos jantarmos na casa dela, em Haifa, no norte do país.








Naquele mesmo dia, fomos para Jerusalém. Ficamos três dias visitando a cidade antiga, os museus e o centro da cidade. Absolutamente incrível essa cidade. Eu sentia esse clima de religiosidade, de história antiga, de mistura de povos, por cada lugar que andava.






E para o mar Morto fomos nós.










Meu novo chapéu posando com a pedra caliza (limestone)





Desculpem a falta de reflexões mais profundas, mas não sei porque não me sinto muito inspirado. Acho que Israel mexe muito mais comigo do que a China, me faz sentir mais em casa e, lembrando do velho ditado, em casa de ferreiro, o espeto é de pau.

Beijos! Comentem!
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