quarta-feira, 7 de maio de 2008

Israel


Na segunda metade do mês passado tirei uma pequena folga do trabalho de professor e fui ter com a minha família no oriente médio, em Israel mais exatamente. Sei que esta viagem foge um pouco do tema do blog, que é a China, mas tem um pouco a ver porque viajei desde aqui e rolou um puta contraste sobre o qual eu vou falar mais para o final deste post.
Para quem não sabe, eu sou judeu e apesar de estar bem desligado da parte religiosa desse termo, inegavelmente faço parte de uma cultura, de um povo, de uma história. Meu irmão, André, mudou-se para Israel há uns dois anos e está estudando numa universidade perto de Tel-Aviv, a capital do país em certos aspectos. Minha mãe, que mora na Argentina, foi para lá e me pagou uma passagem para eu também ir. Foi difícil conseguir a folga de dez dias da universidade, mas valia a pena.

Meu irmão alugou um carro pela empresa onde ele está trabalhando e ficamos uma semana percorrendo todo o minúsculo território de Israel. Consegui visitar muitos lugares que só conhecia pela teoria e rever alguns outros para os quais tinha ido há 17 anos atrás, quando eu levava só oito anos no curriculum. Da vez que tinha ido quando era criança, eu me lembrava de algumas coisas, principalmente de um kibutz na fronteira com o Líbano chamado Rosh Hanikrá, de uma cratera no deserto do Negev em Mitzpe Ramon e da cidade onde eu morei por 3 meses, Beer Sheva. É que nessa época eu tinha ido com a minha família para morar lá na verdade, mas acabamos voltando para o Brasil. Desses três lugares, eu só visitei Beer Sheva desta vez (mais para baixo escrevo a respeito).
Vou falar sobre a viagem mais ou menos de forma cronológica, mudando a ordem de algumas coisas pelo bem da linha de raciocínio

Estas fotos são em Cesaréa, dá para ver o aqueduto que os romanos construíram no tempo deles para abastecer a cidade na beira da praia.


Humus, para quem não sabe, grão de bico amassado, é comida árabe mais que tradicional e que se come em qualquer esquina de Israel, literalmente. Foi de longe o que eu mais comi lá. Este restaurante aqui está em Yaffo, cidade anexa a Tel-aviv, basicamente árabe. O lugar estava bombando mais que o bar Filial na sexta à noite (para quem conhece). Tinha muito mais judeu do que qualquer outra coisa na fila para sentar, até uns caras com o uniforme do exército, o que mostra como, geralmente os dois povos se dão bastante bem.


Alguns dos cozinheiros, todos árabes, que trabalham neste lugar onde o barulho é quase insuportável de tanta gritaria que rola no salão lotado.

A data da viagem que fiz não foi acaso. A segunda noite em que estive lá foi Pessach, uma festa judaica muito importante, que lembra a saída do povo judeu do Egito há milhares de anos, onde éramos escravos. Nessa noite faz-se um grande jantar com a família e pessoas próximas e nós três tínhamos sido convidados por uma antiga amiga da minha mãe para pasarmos jantarmos na casa dela, em Haifa, no norte do país.




Esta senhora já era amiga da minha avó quando minha mãe era criança, por isso sua filha Marcela e minha mãe Diana se conhecem praticamente do berço.

No próximo dia 14 (maio/2008) Israel vai completar 60 anos de independência. Apesar de todos os problemas com os palestinos, eu sinto orgulho desse lugar, que hoje em dia está desenvolvido e bonito, por ter sido fruto do esforço contínuo de um povo que já estava cansado de ser perseguido e morto por causa de preconceito e intolerância. A morte de 6.000.000 de judeus nos campos nazistas (um terço da população judaica) foi a gota d'água que fez com que se conseguisse uma terra própria, uma nação. Eu sou a favor de um estado palestino e acho uma pena que extremistas, como os terroristas por exemplo, tenham minado o trabalho dos dois lados em direção à paz. O causa palestina é um grande assunto sobre o qual não vou me delongar aqui. Só digo que há inocentes e culpados dos dois lados.

Ainda no norte, fomos para o lago Kineret, perto da fronteira com a Síria. É a maior reserva de água doce do país e não é tão grande assim, mas é muito lindo. A foto abaixo eu tirei de uma colina do Golan, um lugar alto, cheio de montanhas, que pertencia ao inimigo antes da guerra de 67 e que foi conquistado por Israel porque de lá eram atiradas bombas e projéteis sobre civis israelenses.

A próxima foto é puramente ilustrativa. Por todo lugar que eu passava nesta viagem, eu via umas mangueiras de plástico marrom entrando e saindo da terra nos jardins, floreiras, plantações, etc. Eu já sabia o que era mas não entendia direito como funcionava. Essa pequena caixinha branca à direita é um computador que controla as válvulas das torneiras das quais saem as tais mangueiras. É um sistema de irrigação por gotejamento que maximiza o uso da água (que é pouca) e faz com que a terra em lugares tão secos quanto um deserto absorvam umidade, ao invés de deixarem tudo escoar pelos poros como aconteceria se você jogasse toda a água de uma vez. Israel está fazendo plantações no meio do nada, no deserto, apenas usando este sistema.

Parece que há alguns anos, no Brasil, um grupo de técnicos israelenses foi trazido para dar uma olhada no triângulo da seca no nordeste e chegou a conclusão que o mesmo sistema poderia ser implantado por lá. Porém, por causa do lobby dos coronéis, os fdp que ganham em cima da miséria da falta de água, a chamada indústria da seca, o projeto nunca foi para frente.

Naquele mesmo dia, fomos para Jerusalém. Ficamos três dias visitando a cidade antiga, os museus e o centro da cidade. Absolutamente incrível essa cidade. Eu sentia esse clima de religiosidade, de história antiga, de mistura de povos, por cada lugar que andava.


Com certeza o muro das lamentações é o lugar mais emocionante da cidade antiga. No dia que eu fui não estava muito cheio, tava rolando um bar-mitzvah e um punhado de pessoas rezando assim, com essa afeição física pelo muro. Este lugar é o que sobrou do segundo templo da história antiga judaica, destruído em 70 d.C., é uma parte da muralha externa da construção.


A cidade pra fora dos muros da parte antiga é toda preenchida por prédios com revestimento dessa pedra amarelada da região. Assim, toda Jerusalém mantém esse aspecto antigo, dourado, meio fantástico.


Acima está o museu do livro, onde estão expostos os pergaminhos do mar Morto, pedaços muito antigos de escritos bíblicos encontrados em cavernas daquela região. Eu me lembrava dessa cúpula dez vezes maior....

E para o mar Morto fomos nós.

Para chegar lá a partir de Jerusalém, é preciso atravessar um trecho da Cisjordânia. Na foto de cima dá para ver uma cidade palestina a partir da estrada onde estávamos.

Bom, o mar Morto leva esse nome por ser o mais salgado do mundo e nenhum tipo de animal sobreviver em suas águas. Uma curiosidade a mais é que ele está abaixo do nível do mar, uns 400 metros! Bom, o que rola é que por ter a concentração de sal tão alta (dez vezes mais do que os oceanos), a água tem uma densidade absurda de alta, e você flutua feito bóia salva-vidas. Extremamente divertido, só tem que tomar cuidado com o olho e a boca. Uma gota e você tá f....

Seguindo para o sul, chegamos a Eilat, uma cidade turística na beira do mar Vermelho, na fronteira com a Arábia Saudita, Jordânia e Egito. Tem um aquário muito bacana com uma torre no mar por onde você desce para ver os corais (gigantes e abundantes) e peixes por umas janelas debaixo d'água.


Rolou de fazer um mergulho de leve com o André. Como não temos carteirinha de mergulhador, fomos com uma instrutora cada um para poder ir ver os corais (de mãozinha dada, vê se pode?).


Turistas franceses eram a paisagem dominante ali. Dois dias em Eilat e fomos para Massada, uma montanha de frente para o mar Morto com um platô no topo, onde estão as ruínas antigas do palácio de inverno do rei Herodes. Esse lugar é muito famoso em Israel hoje em dia por que foi onde se formou uma resistência judaica à invasão romana no primeiro século da era moderna. Cerca de mil pessoas resistiram a um cerco de dois anos feito por 15 mil soldados. No final da história, os romanos construíram uma rampa para invadir a fortaleza e, no dia que conseguiram entrar, encontraram todos mortos: havia-se praticado um suicídio coletivo, preferiam morrer a serem subjugados e escravizados.


Eu fiquei fascinado pela luz em Israel, um sol amarelo, quente, lindo. O deserto me cativou ainda mais, com essa vastidão no olhar que eu amo.

Esse quadrado marrom no meio da foto de cima é um dos oito acampamentos romanos do cerco.

Meu novo chapéu posando com a pedra caliza (limestone)

Voltando para Tel-Aviv, paramos em Beer-Sheva e procuramos pelo lugar exato onde tínhamos morado em 1991. Eu lembrava muito desses bunkers. Lembro de ter rolado para dentro desse buraco numa briga de muleque. Tudo está quase igual à época em que moramos lá, uma sujeira só. A população judaica da cidade é basicamente formada por imigrantes russos que foram para lá depois da queda do muro de Berlim. Dá para ouvir os caras gritando em russo pela janela enquanto ouvem música da sua terra.


Foi bem legal ter ido visitar esse lugar do qual eu guardava uma memória tão longínqua. Foi uma parte importante da minha vida. Eu lembro que ia sozinho para a escola, não muito longe dali, e tinha só 8 anos.

De volta a Tel-Aviv, no meu último dia em Israel com minha família, fomos à praia tomar um sol. Tinha uma galera dançando música folclórica do lado, coisa bem comum em Israel. Logo antes de ir para o aeroporto, consegui dar uma passada no cemitério onde está enterrado meu avô paterno. A última vez que eu o tinha visto foi quando tinha 5 anos de idade. Polonês, conheceu minha avó, também polonesa, no Brasil. Se separou e foi morar na terra prometida. Ao lado dele, sob a mesma lápide, está a sua segunda esposa, que morreu antes dele e que eu nunca cheguei a conhecer. Ele viveu até os 92 anos, quem sabe eu não herdei um pouco dessa longevidade? Em letras grandes, no túmulo, está escrito LAJST em hebraico.

Voltei para a China na sequencia, pegando um trem noturno de Beijing a Xi'an. Duas noites sem dormir quase nada e eu capotei quando cheguei aqui. Foi extremamente bizarro viajar para Israel estando aqui na China, imaginem a diferença de culturas, de tamanho das coisas, de quantidade de pessoas! Lá, todas as pessoas tinham alguma coisa em comum comigo, quando não tinham muitas. Aqui, sinto-me estrangeiro o tempo todo, o tempo todo.
Desculpem a falta de reflexões mais profundas, mas não sei porque não me sinto muito inspirado. Acho que Israel mexe muito mais comigo do que a China, me faz sentir mais em casa e, lembrando do velho ditado, em casa de ferreiro, o espeto é de pau.


Beijos! Comentem!

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito dificil mesmo, comentar esta viagem, comentar este lugar.

Ainda mais de um computador que nao fala portugues e nao tem acentos.

Vou ter que voltar depois, com calma, para conversarmos pelo blog-salada-de-frutas sobre este lugar que tambem me emociona muito.

Nao sei se esta certo dizer isto agora mas, welcome home (??-curioso ne?), enjoy your last months in your home in china... it's almost over, and you'll look back to that as well...

grande abraco, depois faco mais uma visita a esta terra prometida.

Anônimo disse...

Oi Diego, sou o Renato Negrao. A Simonetta publicou uma foto minha junto com o post falando de nossas viagens. Cara, so tenho como me comunicar por vc daqui. E o seguinte, estou no Nepal, e o Erico Hiller, que estava comigo na India, esta na China agora para ficar 45 dias. Ele nao esta conseguindo acessar alguns blogs e pediu para eu entrar em contato com vc e passar o email dele: erico@ericohiller.com.br. Cara, ele esta fazendo um livro de fotografia sobre os paises emergentes e gostaria de falar com voce para trocar experiencia. Mande um email pra ele, ou me passe seu email que mando pro Erico, por favor.
Cara seu blog e sua trip sao demais, parabens. Vou acompanhar. Minha viagem esta acabamdo...
Boa sorte e obrigado.
meu email: rn.fotografia@gmail.com

Unknown disse...

Di
Você consegue falar do Bar Filial em São Paulo com a mesma familiaridade com que fala sobre um vilarejo em Israel... Isso é muito louco!!! Abraço Dani

Anônimo disse...

SEM PALAVRAS...SO EMOCOES!
O CORACAO BATE FORTE E AS SAUDADES JA CHEGARAM... ATE NOSSO PROXIMO ABRACO!!

VALEU MEU FILHO,CADA MINUTO, CADA DIA, CADA CLICK!

BEIJOS
MAMI

Anônimo disse...

olá diego
entrei aqui pelo recado que vc deixou no blog plantados no chão. gostei muito de seu blog, cara, sobretudo do relato de sua viagem a Israel, muito bacana mesmo.
abraço
ira

Bruno disse...

D.
Uma bela viagem, sem sombre de dúvida. E não é que você aprendeu a tirar fotos mesmo?? Nunca imaginei que a china fosse tão bonita. A terrinha emociona mesmo, não? Continue trilhando seus caminhos, mas lembre-se de posta-los aqui!
Abs,
BB

Unknown disse...

...

a cada novo post eu fico mais emocionada

é incrível como um punhado de palavras e imagens pode transmitir a vivencia de algo de maneira tão direta

impressionante

saudades
BEIJO